quinta-feira, 5 de maio de 2011

CIDADANIA, EDUCAÇÃO E BRINCADEIRAS

CIDADANIA, EDUCAÇÃO E BRINCADEIRAS

Walter Steurer (Presidente do Projeto Âncora)
Jornal d aqui / abril de 2001


     Outro dia, fui levar meu filho num parque e, puxando conversa com uma mãe que também acompanhava seu filho, acabamos perguntando um ao outro se nossas crianças de 4 anos já estavam na escola. Ela disse que o dela estava desde bebê numa “escolinha”, mas que a partir deste ano iria para uma escola de fato onde começaria a aprender, porque até então, só tinha brincado.
     Tive vontade de pular do banco, tipo aquela sensação que temos quando alguém comete um erro grave de português, quando parece que alguma coisa pula dentro de você.
     Mas, calmamente perguntei: e brincando ele não aprende também? Pareceu-me que a mãe estava se dando conta de algo em que ela nunca tinha pensado antes.
     A mãe do parque deve imaginar que a criança só aprende algo sentada numa cadeira com mesa, lousa, professor e giz na mão, etc, etc. nunca deve ter passado na cabeça dela que sentado num tanque de areia, se lambuzando de barro, subindo na árvore ou disputando um brinquedo com um colega, ele esteja aprendendo coisas.
     Essas coisas que as crianças aprendem brincando, elas só podem aprender brincando, e são coisas básicas para a vida inteira. Colocar uma criança antes do tempo dela, cumprindo horários, currículos, planejamentos feitos pelos adultos com testes e provas, é roubar dela um tempo que não volta nunca mais. E para quê? Para mostrar aos parentes e amigos que sabe ler com 5 anos? . E o filho, coitado, feliz porque já está chamando a atenção e recebendo elogios como um robozinho ou animal amestrado, fica se expondo às vaidades dos adultos.
     Há coisas fundamentais que a humanidade está carecendo cada vez mais e que aprendemos quando pequenos, brincando espontaneamente sozinhos, em relação com a natureza ou com os outros. Se pularmos essa fase, uma lacuna está aberta para sempre e será muito mais difícil preenchê-la mais tarde. É nessa fase que são formadas noções básicas de cidadania, respeito ao outro, amor à natureza, assim como mãe e casa, solidariedade, espiritualidade. Não há banco de escola que possa, com sucesso, nos ensinar o que a brincadeira ensina à criança.
     Depois, reclamamos de uma juventude que só pensa no consumo, no computador, que precisa de droga e do álcool para ser feliz, que não respeita o outro e nem o planeta, que é individualista. Quando ele podia ter aprendido, estava fechado em apartamentos ou condomínios assistindo TV horas a fio, freqüentando a escola e os diversos cursos que os pais arranjavam para que ele tivesse o que fazer e se “preparasse para o futuro”.
     Em tudo, a melhor coisa é prevenir. Se quisermos formar cidadãos responsáveis, gente feliz; se quisermos paz, segurança, o caminho mais curto e seguro é o da educação, não uma “educação para inglês ver”, uma educação que comece desde o útero da mãe, com respeito a cada estágio do ser humano, sem pular etapas.

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